terça-feira, 6 de agosto de 2013

Relato empoeirado


Me pego hoje revirando velhas folhas de caderno, buscando me apegar à lembranças. Abro um caderno, procuro algo que faça sentido. Paro. Leio cada frase, reparo como o tempo passou. Procuro fotos entre as folhas; me deparo com alguém abraçado comigo, diante de um céu azul celeste, recheado de nuvens branquinhas, os sorrisos refletem sob a luz do sol que ilumina a praia, os cabelos ao vento demonstram a naturalidade da fotografia. Eu a pego, ponho-a em um mural. Eu sei que passou, e apenas sorrio com sinceridade a cada vez que lembro o que aconteceu após a pose para a foto.

Entre uma folha e outra foto, espirro, tudo está muito empoeirado, as fotos já estão sem brilho, tento limpá-las com as mãos e então consigo rever os rostos; percebo a diferença e me impressiono, eu já não tenho mais aquelas bochechinhas rosadas, me impressiono ainda mais quando lembro de quantas situações vivi depois daquele registro.

Involuntariamente, um pingo cai sobre o papel que estou lendo. As lágrimas caem sem cessar encharcando o tal papel, o coração dispara ao lembrar  que aquele poema fala sobre o meu avô. Respiro fundo e sigo a folhear.

Vejo amigos, festas, amores, vejo praias, vejo sorrisos, vejo dor. NOSSA! Vejo que era eu mesma que estava ali!

Continuo. Disparo um olhar para o espelho e revejo tudo aquilo no meu reflexo; chego a conclusão que sou uma construção, sou uma união do tempo e do espaço em que vivi.

Arranco uma folha em branco do velho caderno; olho fixamente para aquela poeira que domina as minhas lembranças e sopro-as; pego uma caneta e finalizo escrevendo: a vida é como um céu, ora vemos as estrelas brilhando fortemente irradiando e cativando nossos olhos, ora uma poeira de nuvens as
cobrem e quando o vento sopra aquelas nuvens, as estrelas não mais são as mesmas.